terça-feira, 30 de novembro de 2010

Primeiro Movimento - Um Processo


Quero começar a relatar a experiência, o processo, a vivência, o contato, o encontro que pude provar duranto o ano de 2010 com meus alunos-intérpretes, ou melhor, com meus artistas-intérpretes Fomos professores e alunos recíprocos, os quais a cada movimento me ensinaram que a dança é uma linguagem intrínseca à vida.
O início do processo data março de 2010.

Primeiro Bimestre. Processos de contato, construção. Um início duro e resistente por parte do próprio conteúdo.
A fim de que o contato desse de maneira calma, e tranquila, nada melhor que um método de ensino. Klauss Vianna. Um processo somático com etapas, com construções. O início de uma história para cada um, o encontro com sua história: para mim o início de um sonho.
Segundo bimestre, o espaço. O que há além de mim? Qual minha relação com o fora, com os espelhos, com os juízes. Qual a relação com o olhar que se estabelece sobre mim, ou melhor, o olhar que acredito estabelecerem sobre mim. Um primeiro postulado, um primeiro jogo, uma primeira brincadeira de criança: escrevam-me um diário com oito páginas.
Um exercício de liberdade.
Um exercício de prazer em meio a fumaça.
Uma risada discreta.

Terceiro bimestre, um desafio ou um jogo amasiado de humores: vamos contruir uma história juntos e dar um nome a ela?
Sim.
Primeiro movimento.
O nome.
O caráter.
Construções, desconstruções, lágrimas, ilusões, desilusões. Quedas de juizes brancos e negros. Assumir-se. O trono é dado novamente, é re-dado ao dono. A cada corpespiriente que assume uma possibilidade de ser indivíduo.

E ser você realmente for único?


Começo a experimentar, investigar essa possiblidade.
Gosto.
Parece gostarem.
Rimos juntos.
Piadas.
Onomatopéias.
Desentendimentos.
Meu corpo se despedaça para se reencontrar numa epifania que dura dois segundos.
Dores.
Re- re - re - re - começos.
Eu estou aqui, eu escutava.

Último bimestre: nosso pequeno amor.
Nudez, caixas, lanternas, minhas histórias escritas a mão. Nossas histórias.
Meu pulso dói.
Estou sozinho, mas tem tantos sós ao meu lado. Será por aí que o mundo se encontrará um dia, quando um solitário reconhecer-se só e gritar sem medo: Eu preciso de você.
Dançamos uma música quase inaudível à ouvidos amestrados. Essa música se chama alma.
E ela toca o som da respiração.
E depois de tudo isso.
Medo.
E depois do medo.
Desespero.
E depois do desespero.
Uma imensidão chamada Deus.

Corpo chamados ao desafio da verdade,
uma dança formada de vozes potentes,
territórios de investigação ao alcance de uma pequena régua,
expansão e dilatação.

Por todos os nomes que tento hoje chamar, não me vêm nenhum a cabeça, falo "Primeiro Movimento" pois me parece o mais próximo de algo que não tem forma. Pois sem forma ele cabe na forma da vida, do ser humano, na palma da mão de qualquer um. É... acho que é isso, dançar assim é caber na palma da mão de Deus.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A poesia do corpo



Eu, que de dentro vejo apenas o de fora
Olho-me beirando a escuridão
Vejo meu umbigo, meu céu, meus dedos indefinidos dos pés
Vejo até por fazer um pedaço de meu tronco.
Como tocado, atiço um primeiro gole de dança
Envolvo-me com meus próprios braços e sou como que arremessado para longe
Um longe da distancia certa entre tudo o que eu vi, para tudo que ainda vou ver. Me pergunto: Seria por alguma acaso uma resposta?
Meus pés pressionam com tal força o chão que toco o teto, toco o cima
O topo de minha cabeça, mais alto que a copa frondosa de um ypê amarelo
Sou da cor do meu movimento
Vermelho na cólera
Azul no brando deslizar de mãos
Amarelo na postura ereta e realizada
Verde no contraste com os círculos que formo com a rapidez de minha existência.
Comprovo que existi
E depois de tal exercício sobre mim mesmo eu faço das sensações um território poético
De máquina usual converto-me em servo fiel
Que a serviço de meu inter-entre
Me desfaço em poesias.